Decidiu não recorrer da condenação pelo crime de ameaça agravada contra a sua mãe, Patrícia Carmona, e ainda o crime de violência doméstica contra a sua avó materna. O que o levou a tomar esta posição?É uma decisão que tomei para me proteger. É a decisão da juíza e eu vou cumprir, obviamente contra a minha vontade. Acho que foi uma condenação injusta. Qualquer pessoa que me conheça sabe que as coisas não aconteceram assim. Estou a ser muito injustiçado. Não tenho o perfil de um agressor de violência doméstica.
E não quer repor a sua verdade?Prefiro não me manifestar. É o meu grito de revolta. Acho que a lei tem de olhar de uma maneira mais humana para as pessoas. Não vou recorrer porque não preciso disso. O mal está feito e não fui eu que o fiz. Vou ser o culpado à mesma. As pessoas vão continuar a olhar-me dessa forma.
Sente esse julgamento?Sinto o olhar das pessoas na rua e recebo mensagens ridículas nas redes sociais de pessoas que não sabem nada.
De que forma está a reagir à condenação [quatro anos de pena suspensa e indemnização de mil euros]?Sinto-me bem por estar em liberdade. Eu nem devia estar a dizer isto, mas foi por um triz que não fui preso. Vou ter de ir a reuniões com agressores. Estou apreensivo. Por outro lado, tenho a vida profissional a correr bem.
Quando foi lida a sentença disse uma frase em Tribunal: ‘Isso é o que a SIC me paga em dois dias de trabalho’, que acabou por gerar polémica. Arrepende-se do que disse?
É o que é. Não retiro o que disse. Estamos a falar de mil euros. Este caso todo é por causa de dinheiro. Fico triste por isso. Todas as pessoas à minha volta sabem que sempre tentei ser o mais humano possível e incentivar os outros a fazer o bem.
A sua mãe deu uma entrevista em que manifestou alguma tristeza em enfrentá-lo na Justiça. Teve oportunidade de ver?Não me lembro bem, acho que vi. Não tenho nada a dizer. Eu não quero alimentar mais esta guerra com a minha mãe. Neste momento estou com projetos e não quero comprometer aquilo que estou a fazer.
Que contacto tem com a sua mãe?Neste momento, nenhum. Deixei de falar com a minha mãe assim que saí do hospital, em novembro. Falámos uma vez ou duas por questões de saúde. Ela acompanhou-me de forma pouco maternal e fria. Já havia a restrição de aproximação. A minha mãe não me apoiou como devia.
Embora esteja fechado este capítulo da violência doméstica tem outros problemas, nomeadamente financeiros. Está a resolvê-los? Tenho uma dívida ao Estado relacionada com rendimentos não declarados, carros em meu nome e multas de portagens, e não tenho carta de condução. Acabou este processo, mas vou começar outro com o meu advogado [Jorge Santos].
Vai encontrar-se novamente com a sua mãe em Tribunal?Ela poderá estar envolvida nos crimes financeiros. Ainda não sei como vão ser as coisas.
Em outubro passado foi atropelado por um comboio e perdeu o pé [esquerdo]. Após alguns meses de fisioterapia já recebeu a sua prótese. Como é que se sente?É uma vitória. Estou há uma semana com a prótese. Estou a habituar-me. Quero voltar a fazer desporto. Tive muito tempo de fisioterapia, demasiado até por causa da Covid-19, que atrasou tudo. Estou feliz, finalmente posso andar. Quero imenso andar e ‘voar’.
O ator mostra-se empenhado na recuperação.
A fisioterapia vai continuar...Vou continuar até me adaptar à prótese. Os meus fisioterapeutas são incríveis e é por causa deles que estou rijo. As médicas que tratam da prótese também estão a ser fundamentais nesse processo.
Quem são os seus pilares?Os meus avós paternos. Eu sempre gostei muito dos meus avós. Agora estou com eles e tenho todo o tempo do mundo para lhes dar atenção. Estamos mais próximos. Eles estão a apoiar-me incondicionalmente.
E o seu pai?O meu pai está bem. Acabei por aproximar-me mais dele. Ele trabalha como camionista e está sempre fora do País. É difícil ter uma relação diária com ele. Acabamos por estar mais juntos e temos uma boa relação entre pai e filho.
Sentiu a falta do seu pai ao longo destes anos?Faltou a presença do meu pai ao longo da minha vida. O meu pai teve problemas no seu percurso de vida e se calhar não conseguiu dar-me a atenção que queria. A esta distância, consigo olhar para o meu pai como um exemplo. Tem uma grande história de vida. Olho para ele com muito respeito.
Está a escrever uma biografia. O que é que nos pode adiantar?Tenho muitas histórias boas e menos boas. Vou contar a minha vida de forma cronológica. Estou feliz porque me fizeram este convite. Tenho a certeza de que as pessoas vão gostar. Prometo dizer a verdade e apenas a verdade.
É o fechar de um ciclo?Acho que é importante para arrumar gavetas. Tem sido terapêutico escrever o livro. Quando chegar ao final sei que vou ter algo com muito sumo.
Assumiu publicamente que tem problemas psiquiátricos. Está estável?Não sou bipolar, nem esquizofrénico. Tenho um psiquiatra que me acompanha e tomo medicação diariamente. Não tenho nenhuma doença grave diagnosticada. E nem sequer penso nisso. Eu tive psicoses e isso sim é um problema grave. Isso alterou a minha vida.
O que despoletou essas crises?Chega-se a esse ponto através do consumo de estupefacientes. Foi uma fase de experimentação que acabou por ter uma repercussão negativa na minha vida. Fumei durante ano e meio e no final comecei a ter episódios psicóticos e uma extrema paranoia, que me acompanhou até há pouco tempo.
Durante esse período esteve sem trabalhar?As pessoas já não me reconheciam. Tinha a noção de que já tinha estado lá em cima e que naquele momento estava em baixo. É importante viver estas realidades tão distantes.
Excluiu o vício da sua vida?Estou completamente proibido de tocar no que quer que seja. Não excluí as pessoas à minha volta que o fazem. Está sempre presente. Não julgo um amigo meu por ele consumir, mas não quero isso para mim. Vou tentar que ele não o faça, porque experienciei as consequências.
No campo profissional tem muitos projetos. Faz parte do elenco do ‘Golpe de Sorte’, da SIC. Como é que surgiu o convite?A Vera Sacramento [autora da série] ligou-me depois de ver uma entrevista minha na televisão e convidou-me para participar. Disse-me que estavam a escrever uma personagem para mim.
Já está a gravar?Comecei esta semana. Fui muito bem recebido. Foi um reencontro emotivo com atores e técnicos que não via há muito tempo. A Maria João Abreu veio desejar-me força.
O que nos pode adiantar?Vamos a assumir o meu problema físico. Estou a gravar há uma semana. O enredo do personagem começa agora e vai estender-se. Não sei quanto tempo vamos estar a gravar.
De que forma está a viver a nova fase com objetivos pessoais e profissionais?Está a ser bom retomar uma vida dita normal. Tenho pessoas à minha volta que se preocupam comigo. Quero contribuir o máximo que puder para a arte em Portugal e como figura pública quero lutar ao máximo contra a maldade.
O que é motiva essa luta?O conceito de bondade está presente em mim e isso erradica a maldade.
Quer voltar a estudar?Não acabei o curso de teatro na Escola Profissional de Teatro de Cascais. Faltam-me cadeiras de História. Não sei se quero acabar o curso. Não descarto.