Duplicidade

Annie transforma os seus discos em reflexões sobre a vida.
28 out 2017 • 01:59
Fernando Sobral
Onde começa Annie Clark e terminam os St. Vincent, as duas faces do mesmo universo musical criado pela cantora, guitarrista e autora desde há anos? Talvez a melhor resposta tenha sido dada por Annie há umas semanas, a propósito do seu novo álbum, ‘Masseduction’: "Fazer um disco é como recrear a nossa própria mitologia". E isso acontece de cada vez que se lança um novo álbum. Afinal ela já passou por diferentes fases lunares, desde o melancólico ‘Strange Mercy’ de 2011 ao futurista ‘St. Vincent’, de 2014. Observadora atenta da realidade, Annie transforma os seus discos em reflexões sobre a vida. E a sua criatividade não se fica pela música: vai realizar uma adaptação de ‘O Retrato de Dorian Grey’, de Oscar Wilde. Mais uma forma de falar sobre as duplicidades dos seres humanos. Talvez por isso este novo álbum, cheio de ritmos e sintetizadores orquestrados pelo produtor Jack Antonoff, cause estranheza. Não é um disco imediato. Mas vai-se revelando fascinante. Ao longo dele Annie vai partilhando connosco os seus desejos e ansiedades. Fantasmas patológicos que surge em todos os temas. Isso cruza-se com as suas reflexões sobre a condição feminina. Canta sobre o vazio, como o faz no primeiro tema do disco, ‘Hang On Me’. ‘Savior’ lembra-nos o universo de Prince, com lufadas de funk muito atractivos. Mas não só: é um tema que fala sobre sexo e sobre as relações humanas à volta do amor. No fundo este disco tenta transformar Annie Clark numa dama da música pop, evoluindo do seu mundo mais "indie" onde estava refugiada. E ainda bem que assim é. 
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